sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dislexia- Dicas da Universidade de Évora


“A dislexia é uma perturbação específica da aprendizagem de origem neurobiológica. Caracteriza-se por dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente das palavras escritas, por dificuldades ortográficas e por dificuldades na descodificação.

Estas dificuldades resultam frequentemente de um défice na componente fonológica da linguagem e são muitas vezes inesperadas relativamente a outras capacidades cognitivas e face ao fornecimento de instrução eficaz. Consequências secundárias podem incluir problemas na compreensão da leitura e experiência de leitura reduzida, o que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e do conhecimento geral.”
G. Reid Lyon, Sally Shaywitz, & Bennett. Shaywitz (2003) – Trad. Rui Alves

Sinais de dislexia: manifestações mais frequentes:
Escrita
Dificuldades ortográficas persistentes, mesmo com palavras simples. Dificuldades na gramática e na construção de frases.. Pontuação ausente ou pobre.
A velocidade e sequências da escrita é afectada – os estudantes perdem com facilidade “a sequência lógica” do que estão a escrever/ler.
Leitura
Leitura lenta e pouca exacta, impossibilidade de fazer uma “leitura diagonal” e problemas em extrair as ideias fundamentais de um texto.
Números
Problemas com capacidades básicas ligadas à matemática e ciências como dificuldades em memorizar e relembrar sequências de números.
Leitura, Escrita Oralidade
Dificuldades em ler em voz alta, em pronunciar palavras pouco familiares. Dificuldade em estruturar uma apresentação oral.
Coordenação
A escrita pode ser lenta e pouco ordenada.
Organização
Deficiente organização e gestão do tempo.
Orientação Espacial
Em alguns casos pode verificar-se deficiente orientação espacial, por exemplo dificuldade em distinguir a esquerda da direita, leitura de mapas e seguir instruções de direcção.
Memória
Deficiente memória de curto prazo. Perda de objectos com facilidade por não se lembrar onde os deixou, esquecimento de nomes e números de telefones, etc. Pouca atenção.
Problemas Visuais
Em alguns casos pode apresentar dificuldade em ler um texto de uma determinada cor, ou quando tem um fundo de uma cor específica . Os estudantes disléxicos podem ver os textos de forma diferente, por exemplo, ver espaços onde não existe qualquer espaço, palavras que se movimentam, etc.


Boas práticas
Estratégias de ensino
As seguintes sugestões de boas práticas serão particularmente úteis para os estudantes com dislexia, mas podem ser úteis aos estudantes em geral. Para além destas sugestões achamos muito importante que o Professor obtenha mais informação sobre dislexia e contacte com os estudantes, no sentido de saber o que para eles é mais útil.
O estudante disléxico na Universidade:
É importante estar alerta para a eventualidade de ter um estudante disléxico entre os que frequentam as suas aulas. Assim deverá:
estar consciente de que ele aprende de forma diferente da convencional;
tentar obter informações acerca dos problemas com que o estudante disléxico se confrontou no secundário, especialmente no que diz respeito:
- à capacidade de auto-gestão
- ao seu sentido de organização
- à capacidade de tomar notas
- à gestão do tempo
- à gestão dos projectos e trabalhos a realizar
- ao ensino unidimensional;
reconhecer a frustração que estudante disléxico deve sentir;
reconhecer que as classificações podem ficar muito aquém do potencial do estudante;
reconhecer problemas de auto-estima e de depressão;
demonstrar simpatia, atenção e preocupação;
oferecer-se para ser o professor-tutor ou nomear-lhe um;
saber ouvir e aconselhar quando necessário e nas alturas previstas para tal;
ajudar a organizar os trabalhos;
planificar os trabalhos com datas bem determinadas (por exemplo, o primeiro trabalho sobre o primeiro capítulo na data x, o segundo na data y... e assim sucessivamente);
indicar as leituras obrigatórias nas bibliografias de referência;
assegurar que os direitos previstos na lei em benefício dos estudantes disléxicos são respeitados, nomeadamente em matérias de exames: intervalos, tempo suplementar, leituras, utilização de computadores portáteis, etc.;
ajudar os estudantes a preencher formulários e a redigir pedidos relacionados com os seus direitos;
insistir no reforço dos talentos naturais do estudante.
Nas aulas
Os estudantes com dislexia lêem e escrevem mais lentamente do que os outros estudantes, assim é para eles muito difícil acompanhar as aulas tirando notas. Estes estudantes podem também encontrar dificuldades em ler acetatos/apresentações nas aulas, pois têm dificuldade em compreender o que lêem e em copiar.
Fornecer um resumo quando se introduz um novo tópico, de forma a iniciar a familliarização do estudante com o assunto – salientar as ideias principais e palavras-chave;
fornecer textos de apoio às aulas, de forma a diminuir a quantidade de notas que o estudante tem que tirar numa aula;
usar múltiplas formas de apresentar a informação: vídeos, slides, demonstrações práticas, bem como ir falando ao longo da apresentação de textos;
prever tempo para os estudantes lerem os textos de apoio às aulas, sobretudo se esses textos vão ser mencionados no decurso de uma aula;
introduzir tópicos e conceitos novos de uma forma óbvia – explicar termos e conceitos novos;
dar exemplos para ilustrar um ponto de vista, uma perspectiva, um assunto;
fazer pausas regulares para permitir que os estudantes possam acompanhar;
perguntar ao estudante disléxico se está a conseguir acompanhar o trabalho nas aulas;
fornecer material escrito, formatando-o num estilo simples, claro e conciso;
usar preferencialmente material impresso em detrimento de notas escritas à mão;
evitar fundos com imagens ou figuras;
uma fonte clara como o Arial ou o Comic Sans é mais fácil de ler do que fontes como o Times New Roman;
não devem ser usadas demasiadas fontes diferentes num mesmo texto;
não usar blocos densos de texto. É aconselhável o uso de parágrafos, diferentes tipos de cabeçalhos, símbolos gráficos a destacar partes de textos e numerar textos;
destacar partes de textos ou palavras usando preferencialmente o negrito em detrimento do sublinhado ou itálico;
imprimir em papel de cor pode ser mais fácil de ler para alguns estudantes com dislexia. Alguns estudantes com dislexia usam acetatos de cor que colocam por cima do texto para facilitar a leitura.
são de evitar as tintas vermelha e verde, pois estas cores são particularmente difíceis de ler.
usar formas alternativas de apresentar conteúdos como gráficos, diagramas, etc.
Avaliações
Em situação de avaliação as capacidades de escrita e ortografia do estudante dislexico podem piorar devido à pressão do tempo. Estes estudantes podem igualmente usar um tipo de linguagem mais básica, evitando palavras longas que lhes torna mais lento o processo de expressão escrita.
As perguntas devem ser expressas em linguagem clara e concisa;
combinar com os estudantes disléxicos a data de entrega de trabalhos;
permitir a este estudantes o uso de correctores ortográficos e/ ou outras formas de trabalho que os ajudem a detectar e corrigir os próprios erros;
Trabalhos práticos
Podem surgir dificuldades quando estes trabalhos exigem apresentações escritas com prazos muito curtos – trabalhos escritos à mão podem ter uma péssima apresentação, bem como conter muitos erros ortográficos.
Deve ser permitida a entrega destes trabalhos impressos, portanto escritos usando o computador;
os estudantes disléxicos podem ter dificuldades em seguir instruções, de forma que estas devem ser claras e simples;
Estratégias de apoio à avaliação e classificação
Deve sempre dar feedback ao estudante sobre a avaliação que fez do trabalho apresentado por ele. Sempre que necessário deve conversar com ele sobre esse assunto.
Quando pontua um trabalho use marcadores diferentes para diferenciar o conteúdo da apresentação (ortografia e gramática, bem como organização das ideias).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Onde acaba o Horizonte????

A jornalista paulista Flávia Cintra, de 37 anos, tetraplégica é mãe dos gêmeos Mateus e Mariana, com 2 anos e 7 meses. Flávia, que trabalha com palestras sobre inclusão e é consultora de Alinne desde maio de 2009, ajuda a atriz a se preparar para ser uma grávida em cadeira de rodas. Ela conta que, no início, a atriz tinha as mesmas dúvidas que outras pessoas. “Mas depois ela mergulhou neste universo e absorveu as emoções e reflexões vivenciadas por uma mulher cadeirante.” Flávia conta que, quando engravidou, houve um misto de espanto e incompreensão ao redor dela. “Como assim grávida? E de gêmeos?”, costumavam perguntar. Nem passava pela cabeça das pessoas que uma mulher numa cadeira de rodas poderia ter sexualidade ativa. Muito menos que ela viesse a ter filhos. Além do tabu sobre a sexualidade dos deficientes físicos, existe o desconhecimento sobre a capacidade dessas mulheres de gerar e criar. Talvez a novela ajude a desfazer esses mitos. Talvez não. O fato é que, no Brasil, os deficientes com mobilidade reduzida são 27% do total da população dos 25 milhões de deficientes físicos, ou seja, cerca de 6 milhões de pessoas. É o equivalente a uma cidade do Rio de Janeiro de pessoas com limitações para se locomover. Mas não se sabe muito mais sobre elas.O IBGE ainda não discrimina o gênero dos deficientes e, no próximo censo, previsto para este ano, isso também não deverá acontecer.Essa população quase invisível namora, casa e tem filhos. As histórias desta reportagem são sobre mulheres “anônimas” que vivem a gravidez e a maternidade com seus medos e suas vitórias. Flávia, Tatiana, Ekaterini e Marcela simplesmente enfrentam o cotidiano, como grávidas e como mães. Flávia Cintra ficou tetraplégica aos 18 anos em um acidente de carro. Ela se lembra de que, logo depois do acidente, ainda no hospital, perguntou aos médicos se poderia engravidar. A resposta foi “sim”. Aos poucos, Flávia recuperou sua sensibilidade, o que permitiu que ela voltasse a ter prazer sexual. Namorou várias pessoas, até conhecer o pai de seus filhos. Depois de marcar o casamento, ela descobriu que estava grávida. “Quando eu soube, só conseguia chorar de alegria. Eu me senti a pessoa mais abençoada do mundo. Costumo brincar que foi o melhor acidente da minha vida.” Ao visitar o primeiro ginecologista, Flávia ouviu um sermão e a insinuação de que deveria fazer um aborto: “Ele me disse barbaridades”. Ela desconsiderou as palavras do médico e procurou a ginecologista e obstetra Miriam Waligora, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Miriam lembra que uma de suas primeiras providências foi fazer exames para detectar o exato tipo de lesão medular de sua paciente – dependendo da vértebra afetada, isso determina a sensibilidade e a mobilidade da pessoa. Depois Miriam ensinou Flávia a observar suas secreções, a apalpar o abdome e a perceber os sinais da presença dos bebês. Flávia podia senti-los mexer em sua barriga. Ela também tomou uma medicação anticoagulante para evitar qualquer risco de trombose – mais elevado nos deficientes por falta de movimentação. A ginecologista afirma que o remédio não afeta o desenvolvimento do feto.Ao aprender a engatinhar, os gêmeos de Flávia escalavam as pernas dela na cadeira de rodasFlávia diz que não teve os problemas sérios que podem acometer as gestantes cadeirantes, como trombose, infecção urinária, escaras (as feridas na pele causadas pela pressão do corpo imóvel). Além de controlar o aumento de peso, todos os meses ela ia até a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) para calibrar a almofada de sua cadeira. Ao acertar a calibragem, Flávia conseguiu impedir o aparecimento de escaras. Ela também bebia muito água para evitar infecção urinária, muito comum entre as mulheres que vivem sentadas. Passou tão bem que com seis meses de gestação foi sozinha a Buenos Aires numa viagem a trabalho. “Eu me sentia muito protegida e tinha certeza de que meus filhos iriam nascer bem”, afirma. A maternidade também tem trazido belas surpresas a Flávia. Ao aprender a engatinhar, Mateus e Mariana escalaram as pernas da mãe na cadeira de rodas para alcançar seu colo. Ela conta que não sabia se gritava de alegria ou pedia ajuda. Os gêmeos também começaram a andar de forma inusitada: seguravam na barra de ferro atrás da cadeira de rodas e empurravam a mãe. Nunca houve um momento de pânico, em que suas limitações físicas a impediram de acudir as crianças em necessidade? “Como eu conheço muito bem minhas limitações, nunca tive problemas para cuidar dos meus filhos”, afirma Flávia. “Sempre criei soluções antes que os problemas aparecessem.”Mas será que as grávidas e as mães em cadeiras de rodas não questionam sua própria capacidade de cuidar dos filhos? Elas não estariam sujeitas, em grau muito maior, às aflições e aos pavores que cercam a gravidez e a maternidade? Marcela Cálamo Vaz, de 43 anos, paraplégica e mãe de duas crianças, Ricardo, de 10 anos, e Luís Felipe, de 5, viveu essas incertezas – “Será que vou conseguir trocar fraldas, será que vou conseguir colocá-lo sozinha no berço? E se eu derrubar meu bebê ou ele engasgar, quem virá para socorrê-lo?” – e conseguiu resolvê-las. “Não é fácil ser responsável por outras vidas. Não é fácil ser mãe de dois.” Ela conta que era mais difícil quando seus dois filhos eram pequenos. Às vezes ela tinha de ser rápida para apartar as brigas entre eles. Marcela não tem empregada. Ela dá aulas particulares de matemática e português em casa, faz o almoço das crianças, o lanche deles para a escola, recolhe os brinquedos e ainda lava a louça nos intervalos das aulas particulares.