quinta-feira, 4 de março de 2010

Ponto de vista.


"Depois de ontem ter referido alguns ingredientes da construção do sucesso escolar, volto hoje ao tema, com o resultado da observação de uma realidade concreta de leccionação num agrupamento do 9º ano.

Sabe-se que a construção do in/sucesso escolar mobiliza um alargado conjunto de variáveis. Nesta nota quero centrar-me na importância do modelo didáctico, centrando-me numa aula de Matemática de 90 minutos (9ºano) que hoje tive a oportunidade e o prazer de observar na qualidade de “amigo crítico”.
Como preâmbulo, diga-se que se trata do projecto “Fénix”, um agrupamento-ninho de 10 alunos (o “ninho” é um agrupamento temporário de alunos com níveis de desempenho similares) alimentado por duas turmas do 9º ano.
Devo dizer que a eficácia da acção docente (e discente) se deveu ao conjunto de características do modelo didáctico que a professora colocou em acção, a saber:
i) Relação pedagógica
Nesta categoria destaque para a manifestação constante de que os alunos são capazes, recurso sistemático ao feedback, elogio recorrente quando há motivos para tal (muito bem, és capaz, tu sabes, parabéns, etc.), elevação de expectativas, rigor e exigência…
ii) Movimento da docente no espaço aula para acompanhar, explicar, elucidar
iii) Linguagem simultaneamente rigorosa, acessível e interactiva (recurso ao universo lexical dos alunos para os concentrar e os convocar para a aprendizagem…)
iv) Tempo em tarefa, isto a quase totalidade do tempo de aula foi passado em tarefa
v) Acompanhamento individual da ‘produção do alunos’
vi) Disponibilização de materiais específicos e diversificados (fichas de “questões-aula” e outro tipo de materiais
vii) Implicação dos alunos em tarefas concretas, objectivas, de produção e não de mero consumo passivo (que em regra gera o tédio, o alheamento e a indisciplina)
viii) Clima de aula “exigente e liberto”, isto é, não constrangente, pacífico, permitindo a concentração e estimulador do trabalho
ix) Recurso a portefólio de recursos organizado pela docente (o que permite diversificar as situações de aprendizagem)
x) Recurso à tutoria intra turma (um aluno que sabia resolver bem um exercício, durante 4 minutos, foi ajudar uma aluna em dificuldade…)
xi) Recurso a actividades plurais em simultaneidade (a professora e um aluno resolviam no quadro exercícios diferentes)
xii) Registo em grelha específica de quem tinha realizado os TPC (e todos tinham, segundo me pareceu)
xiii) Participação activa de todos os alunos (nenhum fica de lado ou de parte; nenhum tem oportunidade de se entediar…) e implicação (“estou desiludido comigo… quero ter mais…)
xiv) O recurso e o treino sistemático da memória como ingrediente central para a realização de algumas operações.

É certo que esta é uma prática muito exigente. É compreensível que este esforço deveria produzir melhores resultados (notando-se algum defraudamento de expectativas da professora face a este nível de exigência). É também admissível algum efeito da presença do observador mas que me parece despiciendo neste caso concreto. É também certo a existência de alguns momentos de distracção e alheamento, sobretudo no final da aula (os 90 minutos de trabalho continuado produz os seus efeitos nos níveis de concentração).
Mas, pelos motivos expostos, o modelo didáctico em acção tem de produzir os seus frutos. Evita o tédio e a indisciplina. E permite afirmar que este é um dos caminhos essenciais que é preciso trilhar e divulgar se queremos aprendizagens reais nas nossas escolas. Pelo meu lado, congratulo-me e felicito a professora e a escola que o colocou em acção."

Tirado de TERREAR de JMA

O Oleiro e o aprendiz

Falta de motivação....