domingo, 2 de dezembro de 2012

Engrenagens...

Atarefados vivemos num ritmo desenfreado. Sem pausas para ouvir o silêncio... para deixar entranhar... o exterior puxa, suga, rodopia... numa espiral ascendente queremos sempre mais e mais... está conquistado...deixa de lado...venha a nova experiência, a nova aquisição... e assim as pessoas são "coisificadas"...servem apenas enquanto alimentam o "ego". São usadas como tijolos para a construção do império pessoal... e como tal...podem ser deixadas de lado quando não encaixam na perfeição, quando não "correspondem" ao papel que escrevemos para elas... e como velhas peças usadas, neste novo mundo moderno, nem sequer servem para reciclar. E o "pessouão" está mais vazio que qualquer vidrão... e o abandono espreita em cada esquina...
(imagem retirada da net)

sábado, 6 de outubro de 2012

Tentar esquecer!

Uma, duas, três tentativas... O esforço é tanto! É visível a marca que o lápis deixa no papel... Mas, o M de mãe não entra na cabeça! Também não está marcado no coração... Mãe...M de mãe...palavra vazia...mas que faz sofrer...deixa no ar algo que não consegue explicar...faz doer! E colo? Como se escreve, como se lê?... Tem o som de aconchego... E saudades? Tem letras que cheguem para me fazer chorar? É que enquanto a dor não passar...dificilmente vou conseguir pensar!
E, depois de uma longa pausa, o regresso. É bom escrever. A escrita coloca-nos numa perspectiva diferente,a reflexão é mais apurada.
Escrevo para registar o que vai ficando tatuado em mim. E o percurso dos alunos com necessidades educativas especiais marca. A luta diária, o desafio permanente para conseguir encontrar uma "metodologia" que resulte com cada um deles, o tempo que se escoa por entre os dedos...o recomeçar a cada instante...a incerteza do percurso... No meio destas interrogações há, no entanto, uma certeza... estes alunos devem poder continuar na escola, devem frequentar os mesmos espaços, viver as mesmas experiências que as crianças e jovens da sua idade. O ritmo é que é diferente...apenas.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A Forma Justa

"Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo."



Sophia de Mello Breyner Andresen, in “O Nome das Coisas”